Olá, meu nome é Alan Kenneth, sou criador do Sentindo Filosofia. Sou estudante de 7° período de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Criado no dia 12 de outubro de 2008, o Sentindo Filosofia tem por objetivo defender a idéia de um saber subjetivo, onde o sujeito em sua individualidade existencial, cria suas concepções da realidade, assim sucessivamente, começa a atribuir sentido ao mundo e ao universo tendo como referencial a sua própria realidade enquanto ser no mundo.

Roberto Caldeira Flores, é um dos colaboradores do Sentindo Filosofia, estudante do 7° período de Filosofia da Pontifica universidade católica de minas Gerais.

sábado, 6 de novembro de 2010

O cárcere de Natalie


Roberto Caldeira F. Junior

ISBN: 9788571605206

Gênero: Romance / Prosa lírica / Ficção brasileira

Maza Edições

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Preço: R$ 15,00

Contato para aquisição: spymg01@yahoo.com.br




PREFÁCIO

O texto que ora se apresenta nas páginas a seguir é surpreendente em múltiplos aspectos. A narrativa, subjetiva, intimista, introduz o leitor no mundo de Natalie, que busca sofregamente clarear a identidade de sujeito capaz de designar a si mesmo ao significar o mundo. A reconstrução da história de vida pela mediação da narração poética e em prosa conduz a uma dimensão temporal tanto de si como da própria ação. A identidade dos sujeitos se processa no âmbito da semântica da ação e auxilia a aproximação com a pessoa do leitor para interpretar a aliança subjetividade e razão. Seria narrar interpretar-se? Quando os personagens falam de si mesmos, há um mundo interior projetado na narração, vinculado a uma realidade exterior de sua cultura. O sujeito se designa a si mesmo ante o outro e o mundo através dos signos e significantes traduzidos na narração. A identidade pessoal dos personagens Natalie, Elend, Schlange, Herrschaft e Kalón é uma problemática envolvida na existência coletiva, reproduzida na via temporal. Existiria uma estrutura da experiência humana capaz de integrar as narrativas históricas e de ficção? Seriam as vidas humanas mais legíveis e inteligíveis quando interpretadas a partir dos modelos narrativos das intrigas tomadas da ficção? O cárcere de Natalie surpreende ao instigar a reflexão sobre o mesmo e o outro. Na tríade descrever, narrar, prescrever destaca-se o exercício de constituição do si mesmo e identidade do sujeito submersa na trama existencial. No cárcere de Natalie a identidade se manifesta em paradoxos múltiplos, a traduzir uma penúria no reconhecimento do si mesmo e ultrapassa o tempo presente em um jogo entre passado, presente e futuro. A vida é enigma, mistério. O lugar da identidade constitui um espaço de aporias, contradições. Contudo, a vida é também sonho e desejos, cheios de imagens criadas pela subjetividade de cada singularidade, enraizada na cultura do vivido e particularidade do ser. Sonho, enigma, mistério, desejos (in)confessos, alegrias? Tal como o papel do coro nas tragédias gregas as falas em poemas surpreendem e instigam o leitor a refletir sobre o sentimento do trágico, do mal, da falta, da antinomia bem-mal, do tormento do ser na angústia existencial. As páginas seguintes convidam o leitor a uma imersão no Cárcere de Natalie para-através de seus personagens-interpretar-se na totalidade paradoxal do si mesmo e da trama espelhada no mundo finito.

Dr. Antônio Aurélio Oliveira Costa
Professor de Filosofia – PUC Minas



Apresentação

Roberto Caldeira é um jovem escritor e traz consigo a experiência que não se conta nos anos vividos, mas na vivência atenta a cada movimento da vida e do mundo. Sua aproximação aos problemas sérios da vida se dá com a parcimônia de quem toca o mistério. Ele o indaga com zelo, atenção e cuidado. A finitude, o amor mais difícil de ser vivido, é seu tema liberador. Roberto é autor de muitas perguntas e uma meta. Seu estilo conduz o interlocutor a desconcertar-se e rir-se antes de mais nada de si mesmo. Os personagens que habitam o imaginário do filósofo jovial pedem licença para tomar o nosso mundo real, o mundo das vivências em que cada um sabe de seus medos, de seus projetos e de seus sonhos
Roberto escreve com a sensibilidade do músico-artista. Seus personagens parecem flutuar ao mesmo tempo em quem nos sentimos agarrados ao fundo do assento de nossas próprias questões. Suspeito que Roberto Caldeira seja um psicólogo-escritor no futuro. Se agora ele se lança perito da alma, os trilhos da vida poderão levá-lo a desvendar florestas ainda mais densas.
Apresentar Roberto Caldeira não me parece tarefa fácil. Não porque o autor se oculte em um cárcere de sombras, mas porque nele se contempla um futuro promissor, um horizonte muito vasto de possibilidades. O autor que com estima e amizade agora apresento, sem autoridade nem mérito para tanto, o deixo sem pressa aos leitores que recebem a sua primeira obra. Espero que vejam nele o brilho da estrela mais distante que nos chama ao ultrapassamento.


Flavio Senra



domingo, 18 de abril de 2010

Sartre: A Liberdade Enquanto Responsabilidade e a Necessidade do Olhar do Outro para Identificação do Eu

É através do olhar que nos identificamos, é através do olhar do outro e do outrem que me vejo diante de um mundo e percebo quem sou e como sou. É nesta perspectiva que a filosofia existencialista sartriana trilha. Devemos entender que embora exista uma relação com cogito cartesiano, enquanto possibilidade de apreensão da realidade, é de suma importância que entendamos que ao apreender a existência subjetiva, apreendamos também a existência de outrem:
Porém, a subjetividade que alcançamos a título de verdade não é uma subjetividade rigorosamente individual, visto que, como já demonstramos, no cogito eu não descubro apenas a mim mesmo, mas também os outros. Através do penso, contrariamente à filosofia de Descartes, contrariamente a filosofia de Kant, nós nos apreendemos a nós mesmos perante o outro, e o outro é tão verdadeiro para nós quanto nós mesmos. Assim, o homem que se alcança diretamente pelo cogito descobre também todos os outros, e descobre-os como sendo a própria condição de sua existência.
(SARTRE, 1987, p. 15)
Jean Paul Sartre em sua conferência O Existencialismo é um Humanismo, busca explicitar toda a sua teoria existencialista, alvo de críticas após a publicação de Ser e o Nada. Ao contrário da segunda, que tem um caráter de profundidade e possui termos e conceitos mais complexos, o Existencialismo é um Humanismo busca demonstrar de forma mais simples o que fora tratado em O Ser e o Nada, de tal forma que qualquer pessoa possa compreender sua filosofia.
O ponto de partida para a compreensão da filosofia existencialista é pensar na existência enquanto única possibilidade inicial do homem: A existência precede a essência com dito pelo próprio Sartre. Sartre, sendo ateu, pensa que não existe nada anterior a existência - um ser onipotente que ao nos criar, produz várias concepções a priori e a partir disso, através destas “categorias a priori” nos relacionamos com o mundo. Para Sartre, somos um nada, que se constitui a partir de sua existência, se formando a partir das relações, humanas, e das relações do homem com o mundo.
O homem, tal como o existencialista o concebe, só não é passível de uma definição porque, de inicio não é nada: só posteriormente será alguma coisa e será aquilo que ele fizer de si mesmo. Assim, não existe natureza humana, já que não existe um Deus para concebê-la. (SARTRE, 1987, p. 6)
O homem antes de mais nada existe, e partir daí este se molda, este não é nada mais do que o que ele faz consigo mesmo, é isto que Sartre coloca como sendo sua subjetividade. A subjetividade em Sartre - diferente da subjetividade que críticos apontam como sendo a negação do mundo - é a capacidade do sujeito se formar, a partir de se mesmo, pois não há alternativa de completude a não ser a que o próprio eu se completa. Este, ao se formar, se projeta para o futuro, e tem consciência de seu projetar.
[...] o homem, antes de mais nada, existe, ou seja, o homem é, antes de mais nada, aquilo que se projeta num futuro, e que tem consciência de estar se projetando no futuro. De inicio, o homem é um projeto que se vive a si mesmo subjetivamente ao invés de musgo, podridão ou couve-flor; nada existe antes desse projeto; não há nenhuma inteligibilidade no céu, e o homem será apenas o que ele projetou ser. (Sartre, 1987, p. 6)
Mas ao dizer que somos aquilo que nos projetamos ser, não é no sentindo de querer, mas sim no âmbito da vontade, como algo mais profundo e espontâneo: quero me casar, fazer tal faculdade etc. e pensando nesta perspectiva, assim como a negação de uma ordenação divina que precede a existência, o homem é total responsável pela sua existência enquanto tal. Porém, o homem não é só responsável por si próprio, mas sim por todo o homem, quero dizer por toda humanidade.
A subjetividade para o existencialismo seria a incapacidade do homem de transpor os limites da própria subjetividade humana e não como pensam os críticos, em um individualismo narcísico. Pois ao escolher-mos, estaremos escolhendo também o outrem. Pois toda escolha profere um valor, e neste âmbito, ao escolhermos para nós, proferiremos tal valor que desencadeará no outro, lembrando que para Sartre a escolha não desemboca no mal, será sempre para um bem, e não existe bem solo, o bem sempre remeterá num todo.
Escolher ser isto ou aquilo é afirmar, concomitantemente, o valor do que estamos escolhendo, pois não podemos nunca escolher o mal; o que escolhermos é sempre o bem e nada pode ser bom para nós sem o ser para todos. (SARTRE, 1987, p. 7)
Quando o homem adere ao tal partido, ou busca o matrimonio, este faz escolhas individuais, mas ao escolhê-las, escolhe também valores que cabem a cada um, e, desta forma, assumindo estes valores, também transportará estes valores para a humanidade. Ao engajar em tal modalidade, o homem resigna tal coisa a tal humanidade. Desta forma fica claro que para Sartre, as escolhas feitas pelo homem tem total responsabilidade, pois não se trata apenas de sua vida, e sim da vida de toda a humanidade. Quando o homem entende sua responsabilidade para com o mundo, ele se angustia.
Para Sartre, o homem é angústia. O homem que se engaja, e ao se engajar tem a consciência de que seu engajamento não é apenas uma escolha que o forma, mas sim um escolha legisladora que também engajará toda a humanidade, e se angustiará ao perceber toda a responsabilidade presente em sua escolha.
Porém, o que ocorre na maioria da vezes é o mascaramento da responsabilidade, onde o sujeito, pensa, ou pelo menos procura pensar que suas escolhas não interferem no mundo, e somente a sua vida em particular, este isola-se do mundo, vive somente aquilo que pensa ser o que é, negando sua responsabilidade para com o mundo; isto é o que Sartre chama de má fé.
Aquele que mente e que se desculpa dizendo: nem todo mundo faz o mesmo, é alguém que não está em paz com sua consciência, pois o fato de mentir implica um valor universal atribuído à mentira. Mesmo quando ela se disfarça, a angústia aparece.
(Sartre, 1987, p. 7)
A angústia é o sentimento que mostra a responsabilidade do homem para com o mundo, pois este sabe quão importante é suas escolhas, e que esta influencia todo o universo humano.
O homem, após existir, não terá nenhuma referencia para onde ir, já que não existem como dito antes, idéias inatas presentes, e sendo um nada que ainda vai se constituir, este é responsável por sua criação, está só – em termos de existência transcendente – e por isso tem que se construir. “O homem está condenado a ser livre [...] (SARTRE, 1987, p.9)”, esta máxima sartriana quer dizer que o homem não criou a si próprio e por isso é condenado e livre porque a partir da sua existência este é responsável por sua construção, e que a própria liberdade leva a responsabilidade de escolher para o mundo. A partir da liberdade que o homem inventa o homem. Para o existencialismo, o homem se constrói a todo instante, então não pode existir a concepção de que o homem já nasce herói ou covarde, isto acontecerá a partir de suas escolhas, e não a partir de seu código genético, ou de uma ordem divina.
Por fim, entende-se que a existência precede a essência, porém esta existência ainda é como o nada, e por causa disso o homem está condenado a ser livre, pois este que será o responsável pela construção do próprio eu, mas não somente o próprio eu, também pela construção de todos os homens, assim já percebemos que existe neste principio uma relação do eu com outro, e mesmo sendo uma busca do cogito, se difere porque já inclui a existência de outrem. Porém, mesmo sendo o homem que constitui o próprio homem, devemos entender que é somente no outro que percebo quem sou. É através do olhar do outro – como dito no inicio – que me vejo, pois o outro é tudo aquilo que não sou. “[...] cada um escolhe perante os outros e se escolhe perante os outros. (SARTRE, 1987, p. 18). Sartre diz (p.16) que o outro é indispensável à minha existência tanto quanto, aliás, ao conhecimento que tenho de mim mesmo. Ele diz que a descoberta de minha intimidade se dá em função de uma liberdade, a do outro que se encontra em minha frente, e este que pensa e que quer, somente a favor e/ou contra mim. Sartre afirma que este plano das relações entre o eu e o outro/outrem pode ser entendido como intersubjetividade.
O homem é livre, porém esta liberdade trás consigo a responsabilidade, e a responsabilidade a angústia, pois a escolha que faço, é plenamente livre, mas ao escolher para mim, também escolho para o mundo, e, não sou o responsável por minha existência, mas sou responsável por minha constituição, e que por mais que eu me constitua, necessito do outro para compreender o que sou como também sou responsável pela identificação que outro terá através de mim.


Referências

Sartre, Jean-Paul. O Existencialismo é um Humanismo. In: Os Pensadores. 3.ed. São Paulo: Nova Cultural. 1987, p. 1-32.